Por que a literatura clássica Russa romantiza o sofrimento?

por Yulia Makarochkina

Não é surpresa que a literatura russa tenha frequentemente refletido temas de sofrimento, tristeza e angústia porque a Rússia, e sua encarnação na União Soviética, foi atormentada por turbulências por geração após geração.

 Apesar da guerra napoleônica, da guerra da Crimeia, de duas guerras mundiais e da pobreza, a Rússia produziu alguns dos maiores escritores que já escreveram no papel. Muitos deles sofreram como os personagens em suas obras.

O famoso escritor Russo Fiódor Dostoiévski uma vez disse : 

“ Eu acho que a necessidade espiritual mais importante do povo russo é a necessidade de sofrimento, eterno e insaciável, em todo lugar e em tudo. O fluxo de sofrimento passa por toda a sua história.  O povo russo, mesmo em felicidade, certamente tem uma parte do sofrimento, senão sua felicidade é incompleta para ele. Nunca, mesmo nos momentos mais solenes de sua história, ele tem uma aparência orgulhosa e triunfante, mas apenas uma espécie de carinho antes de sofrer; ele suspira e glorifica sua glória à graça do Senhor. O povo russo, por assim dizer, está desfrutando de seu sofrimento. Como um todo as pessoas, e em tipos individuais, falando, no entanto, apenas em geral.”

A compreensão da dor e do sofrimento dos russos vai muito além do físico e muitos livros mostram como famílias, amantes e culturas inteiras podem desmoronar quando a pressão é aplicada por forças externas. Todos precisam experimentar a literatura russa em algum momento. Você pode o tal sofrimento russo nas obras  de Liev Tolstói, Fiódor Dostoiévski, Nikolai Gogol e Boris Pasternak 

Para observar o quanto a literatura russa pode te levar a depressão, confira alguns livros abaixo :


1. Anna Karenina de Liev Tolstói

Pode-se definir Anna Karenina como um romance dos impulsos, ou pulsões, já que não há outra narrativa tão completamente centrada sobre o fato de a heroína  ser carregada por sua vontade, a ponto de nada mais lhe importar. Anna é íntegra demais para a tragédia e imbuída demais de realidade para ser capaz de sobreviver em qualquer deformação social da mesma. Se ela morre, então, é porque Tolstói não era capaz de sustentar o sofrimento de imaginar uma outra vida em que ela tolerasse continuar vivendo.

2.  Crime e castigo de Fiódor Dostoiévski

 É um daqueles romances universais que abriram caminhos ao trágico realismo literário dos tempos modernos. Uma história de assassino em busca de redenção e ressurreição espiritual, o leitor tem a oportunidade de explorar as mais diversas facetas da psicologia humana sujeita a abalos e distorções. O fascinante efeito que produz a leitura de Crime e castigo — angústia, revolta e compaixão renovadas a cada página com um desenlace aliviador 

3.  Almas mortas de Nikolai Gógol

 Até o título do livro transpira escuridão e trevas. O Gógol elabora um retrato ao mesmo tempo lírico e satírico de seu país de adoção. O livro traz a história de Tchitchikov, um especulador de São Petersburgo que viaja pelo interior da Rússia adquirindo dos nobres locais documentos de posse dos servos (ou “almas”) que já morreram, algo sem valor na província, mas papéis que poderiam dar a seu comprador um novo status diante da alta sociedade da capital. 

4. Doutor Jivago de Boris Pasternak

 Boris Pasternak traz à luz o drama e a imensidão da Revolução Russa pela história do médico e poeta Iúri Andréievitch Jivago em seu constante esforço de se colocar em consonância com a Revolução. O leitor pode testemunhar o sofrimento do personagem, a filosofia de metamorfose revolucionária  e as consequências deste evento. Em tempos em que a simples aspiração a uma vida normal é desprovida de qualquer esperança, o amor de Jivago por Lara e sua crença no indivíduo ganham contornos de um ato de resistência. 

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